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segunda-feira, 22 de junho de 2009

JAGUARÉ, o triste fim de um grande goleiro

Seu nome era Jaguaré Bezerra de Vasconcelos, nasceu no Rio de Janeiro, filho de Antônio Bezerra Vasconcelos e Raimunda Tavares de Vasconcelos. Passou a maior parte da sua infância no cais e vestia-se mal. Aconselhado por um amigo, foi fazer um teste no Vasco da Gama. Logo que chegou começou a treinar no gol, criando logo uma certa intimidade com a bola chamando-a carinhosamente de “bichinha”. Valente e abusado, Jaguaré em pouco tempo se torna uma revelação vascaína naqueles anos 20.

Seu apelido era “Dengoso” e, sendo titular do Vasco, não admitia a presença de outro goleiro que pudesse tomar seu lugar. Quando isso acontecia ia treinar tiro livre. Assim que o pretendente a arqueiro ficava no centro da meta, Jaguaré desferia um tremendo chute levando-o a nocaute. Assim que levantava o infeliz dizia adeus e Jaguaré ficava todo feliz esperando a próxima vítima. Um dia desafiou Grané, um dos maiores chutadores do futebol brasileiro. Grané colocou a bola na marca do pênalti. A torcida gritava: “Cuidado Grané não mate o Dengoso, chute fora”.

Quando o juiz apitou muita gente virou o rosto para não ver o fuzilamento. O chute partiu. Jaguaré segurou a bola e caiu ouvindo um “anjo tocando harpa”. Levantou-se e rodou a bichinha no dedo... Nunca houve nenhum goleiro com mais facilidade de pegar uma bola! Podia ser o chute que fosse, um tijolo quente – como se dizia – e a bola perdia a força nas pontas dos dedos de Jaguaré. O Vasco, ainda na época do amadorismo, foi um dos primeiros clubes que reforçou seu time com jogadores negros, Em 1929, a equipe torna-se campeã carioca com um time inesquecível: Jaguaré, Brilhante, Itália, Tinoco, Fausto, Mola, Pascoal, Santana, Russinho, Mário Matos e 84. Em 1931, o Vasco segue para a Europa indo cumprir uma série de amistosos.

Depois a equipe vai para Barcelona (Espanha) onde estréia em 26 de julho com o estádio completamente lotado. No primeiro jogo o Barcelona venceu de 3 a 2. Depois o Vasco emplacou uma série de vitórias, culminando com a goleada de 7 a 1. Após concluir os amistosos, Jaguaré vai para o Barcelona, onde sente na pele o preconceito por parte da torcida e dos dirigentes. Em maio de 1932, após uma discussão, ele volta ao Brasil e, em 1934, passa a defender o Corinthians. A diretoria resolve substituí-lo pelo goleiro José Hungarez, o primeiro estrangeiro a vestir a camisa do Corinthians. Em 1938, Jaguaré embarca para a França para estrear no Olimpic de Marselles. Com ele, o Olimpic conquista pela primeira vez a Taça da França.

Após sua volta ao Brasil, em 1946, Jaguaré cai em decadência ao entregar-se ao vício da bebida. Perambulando sem eira nem beira, ele acaba ficando demente. Em sua passagem na prisão ele acabou batendo com a cabeça na parede da cela. O diretor da prisão – que o conhecia – vendo que o coitado apresentava um quadro de problemas mentais mandou transferi-lo para o Manicômio Judiciário de Franco da Rocha (mais conhecido como “Juquery”). Assim que chegou ao departamento foi Imediatamente foi hospitalizado, mas devido ao seu estado precário, Jaguaré, um dos maiores goleiros da história do futebol veio a falecer semanas depois.


* Adauri Alves é jornalista, escritor e fundador do Núcleo da Consciência Negra de Franco da Rocha (SP)

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