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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA

Nos últimos instantes, quando a projeção do filme foi encerrada, Sidney do Prado de Souza, desceu da sala onde ficava a cabine de projeção, esfregou as mãos de contentamento por mais uma noite, que oferecia ao público alfenense mais uma sessão de ilusão no Cine Alfenas, e deu por cumprida a missão. Isso aconteceu na década de 60, quando o cinema encerrou suas portas. Assim também aconteceu na vida real. Aos 85 anos de idade, agora cinéfilo inveterado, o sr. Sidney encerrou mais uma sessão cinematográfica, na manhã de 27 de março último. O ex-projecionista descansou em paz.
O sr. Sidney sempre foi um cidadão preocupado com a memória cultural e histórica de Alfenas. Revelou-me tempos atrás, que tentava recuperar o relógio original da Matriz de São José e Dores e o que restou da aparelhagem de projeção do extinto Cine Alfenas. Contava-me sempre do seu esforço de conscientização das autoridades para essas restaurações e eles não davam a mínima. Sr. Sidney não adianta preocupar-se com o descaso para com a arte, que sempre foi característica desses homens sem formação cultural relevante. Sempre mantive contato com o grande guerreiro da 7° Arte. Vinha, às vezes, em casa para folhear álbuns de artistas e do mundo do cinema.
Estava tão envolvido com lembrança dos bons filmes do passado, que passava horas naquele enlevo sentimental. E eu observava a pertinência em cultivar a memória cinematográfica, que recordava os anos de projecionista primeiramente do Cine Pathê, depois do Cine Teatro Carlos Gomes (até outubro de 1924), seguido do Cine Alfenas desde 1943, quando foi inaugurado com o filme “Sempre no Meu Coração”. Com orgulho me disse que “sessenta e seis anos, não de um cinema em atividade, mas de um prédio que ainda ostenta as mesmas características de quando foi inaugurado, sendo na época um dos mais suntuosos edifícios aqui erguidos, na Praça Getúlio Vargas”.
Naquela época o ex-projecionista ainda me revelou que no Cine Alfenas, no segundo dia foi projetado o filme da Metro: “Rosa de Esperança”, e no terceiro “Isto Acima de Tudo”, da Fox. “Foi uma semana de festa”, exclamou. Ainda diz mais: “Quando se ouvia o prefixo do Cine Alfenas, “Sempre no Meu Coração”, dentro de poucos minutos, as salas estavam lotadas para ver grandes filmes, que eram exibidos por mim, que nos meus 85 anos de existência e 30 anos como funcionário do Cine Alfenas não deixo de recordar os anos de enlevo pelo extinto Cinema”.
Sidney Prado de Souza revelou também que foi para S.Paulo e lá trabalhou por muitos meses no “Cine Metro” da capital paulista retornando logo em seguida para a sua cidade natal em 1955, trabalhando de novo no Cine Alfenas, para os então proprietários, os irmãos Mutrans, que o haviam comprado de Juscelino do Prado Barbosa, e dirigiram o referido cinema por mais uma década, até a sua venda para os Irmãos Iunes: Jamil e Antônio. “Lembro-me ainda de que a inauguração foi documentada pelo repórter cinemagrafista “Jean Mazon” do Rio de Janeiro, indiscutivelmente ligado à história do Cine Alfenas”.

Não resta dúvidas de que este grande batalhador pela cultura de Alfenas, deveria ser sempre lembrado como um dos provedores da Arte em nossa cidade e perpetuado com digna lembrança no Patrimônio Histórico de Alfenas. Devemos todas as nossas considerações e homenagens a este desbravador alfenense que muito fez para a nossa terra. Não deixo de lembrar e compará-lo ao projecionista do filme “Cinema Paradiso”, que revelou que a alma humana precisa de sonhos para viver.
E Sidney cumpriu e desenvolveu esse mister perfeitamente bem. Nós que vivemos essa geração do escurinho no cinema sabemos o valor do projecionista, o mágico da tela, que nos mostra esse mundo fantasioso e encantador do cinema .Agora neste presente momento Sidney deve estar projetando filmes para os anjos e santos do céu!


*Marco Antônio de Oliveira é jornalista e escritor.

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